Cachoeirão dos Rodrigues ameaçado por represa !
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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O Pescador Sem Rosto


Nós começamos a pescar o Silveiro lá no Chico e Nilda em 1996-1997.


E aí começamos até a aprender uma ou outra coisa.




O Caco Fleck fez algumas varinhas de bambú. O desgraçado tá com a minha faz alguns anos e só tem que envernizar.


Espero que lendo isto ele tome vergonha na cara !


Eu montei umas varinhas de grafite.


O Tita iniciou a carreira dele em San Martin , que eventualmente vai levar ele a algum cargo público por lá.


O Ruy Varella começou a escrever para a Troféu. Foi o "bico" Varella quem criou o grito de guerra.


"- Rainbow!"


Uma celebração misturada com flauta.


Passaram por Porto Alegre guias argentinos como o Diego Guglielmi,


o falecido Gustavo 'Tati' Tachinni e em especial Alejandro Klap.


Todos queriam as moscas do Scotti.


Pintou até loja Orvis em Caxias.


Entramos em contato com mosqueros de longa data que passaram a


pescar o "nosso" rio.


Fiquei amigo do Beto Saldanha, um genial fabricante de varas de


bambú que estava un pouco exilado da mosca no Alto Leblon.




Entrementes...


E não entre mentiras !


Eu tenho aqui algumas fotos pinduradas na parede.




Um salão da fama que iniciei porque a loja aonde revelei as fotos de uma pescaria


de dourados em Esquina tinha uma promoção que dava fotos ampliadas de graça.


Daí eu peguei um tucunaré bem respeitável (6.5 kg) no Abacate.


Esse virou duas fotos.


Até uma piava de bom tamanho parecia digna, por que peguei com light tackle.


Nenhuma truta.


O peixe que habita meus sonhos, não podia ser qualquer uma.


....


No inverno de 2000, o Tita me perguntou se não dava pra ficar uma semana em Ausentes. Ao invés do usual fim de semana prolongado.




Que pergunta !


Dez dias de truta na mosca , charutos, bons vinhos, aquela histórica garrafa de Laphroaig e a comida da Nilda, os causos do Chico.


O que mais eu poderia querer da vida.


Tava frio pacas.


O Junkers novo, que veio aliviar o problema de água quente no banho estourou com a expansão da água ,que tem ser a menos de quatro graus.


Frio, no entanto, significa pesca farta.


Depois de alguns dias a gente tava "pescado", tinhámos espaço para criatividade.


Ao invés de tentar a pescaria Marco abajo, wadeando da ponte até a pousada, iríamos pescar Marco arriba.


Para ver se acima da ponte se encontrava alguma escondida.


O Hélio , primo do Chico, tinha, acho que ainda tem, um tramo lindo do Marco e eraa lá que iriamos começar a empreitada.


Comemos o tal café da manhâ "substancioso". E nos tocamos rio acima.


Íamos pescar meio que se cuidando, para ajudar um ao outro. Mas em pesqueiros diferentes para aumentar as chances de engatar uma.


Tinha um pool gigante cercado de "tocera", mas tava dando muito trabalho pescar lá.


Nos tocamos para água mais rápida.


Tomei um cagaço, quando um perdigão ergueu voô perto de mim.


Acho que nunca tinha visto um ( vivo e com penas) na minha vida !


A topografia parecia virar um suave escadaria, descendo em direção ao vale até a confluência com o Silveiro.


Um pequeno degrau, uma correderinhia, um buraquinho. Um atrás do outro.




Me fardei de wolly bugger oliva.


Porque como diz o João Comunello: "- O homem tem que fazer o que ele tem que fazer !"


Uma hora depois a gente ainda tava sapateiro.


Feliz, mas argolado.


Só não tinhámos como saber se havia truta lá.


Chega de enrolação, vamos ao tal desfecho...


Fiz o que sabia fazer na época, arremesso rio abaixo cruzado. Deixe a mosca fazer o suíngue pro buraco e começei a trabalhar a mosca.


Na segunda puxada e senti uma batida.


Uma batida, peixe !


Para lá ! Que eu vou ferrar.


Agora vou entoar o mantra elegantemente, deixar o mundo saber...


"- Rain... Daí o peixe de uma puxada diferente, uma força incomum aos peixes que eu tava pescando por aqueles dias.


....BOOOOOOW !"


Se foi as elegância !


Não consegui me controlar, juro! Adrenalina !


Seguiu um belo salto, perfeito. Era um trutão.


Lembro do Titão pulando e correndo para atravessar o rio, como se fosse desenho animado.


Por cima da água.


Ele gritava :


"- Não perde ! Não perde! "


E eu cá pensando,


"-Não perde ! Não perde !".


Eu precisava daquela foto.


Ah! "A" foto!


Finalmente uma truta iria para parede.


Agora era a hora, olha só o valor agregado desta história toda.


Imortalidade!


E eu poderia usar a minha máquina fotográfica nova, que tirava foto até debaixo d'água.


Levei pro reel, puro estilo.


Vim trazendo com todo o cuidado, dois dos minutos mais longos da minha vida.


E era, de longe, a maior truta, a mais bonita, desenvolvida pega por aquelas bandas.


Pelo menos até aquele ponto.


E lá estava ela. Na rede do Tita que chegou para me ajudar.


Ele lidava com ela com todo cuidado, fazendo ela respirar para soltar, como se eu não fosse de confiança !


Enquanto ele fazia isto eu tirei algumas fotos debaixo d´água.


E o cara ia soltar o bicho.


"- Peraí! Me dá meu peixe e tira uma foto !"


Quase que esqueço.


Ele disse :


"-Toma cuidado !"


Era história sendo feito, mas eu senti um pouco de falta de confiança.


Uma foto, duas pra ficar seguro.


Um momento tão marcante que depois de sete anos, um mês e nove dias, eu consigo me lembrar de tudo como se fosse ontem.


Melhor até, considerando alguns "ontens" em que fiquei de pé molhado!


Era só um peixe e ainda assim eu tinha me elevado a outro patamar.


Eu fizera algo nunca antes feito pornenhum outro er humano, presumivelmente.


Aqueles eram os distantes dias da impressão em filme de camada química fotosensível.


Ia levar uma semana para ter as fotos. Aquela da parede.




Abri o pacote que nem o Charlie abria o chocolate Wonka, o primeiro filme.


E lá estava...


Eu não podia acreditar!




Toda borrada....


Meu rosto...


Eu não tinha rosto!


A melhor truta, o tróféu deu em uma foto cagada porque eu tirei as fotos embaixo d'água e não limpei a lente.


Uma gota d'agua ficou na lente, distorceu a luz e me fez sem rosto.


Perfeição arruinada eternamente.


Talvez o rio tinha encontrado um jeito de me dar uma lição de humildade.


Como seguidamente faz a todo pescador!


E a foto nunca foi para parede porque eu não aparecia bem na foto.


Que baita bobalhão!


Eu peguei uma marrom grande na Argentina, no Norquinco.


E o Paulo Schereiner que tava comigo.


Na hora de tirar a foto engasgou a máquina dele.


Quando ele ficou pronto para tirar a foto.


A truta escapou das minhas mãos.


Talvez uma maldição, talvez outra lição do rio.


Eu já peguei trutas maiores, e que brigaram mais.


E aquela, Marco Arriba foi a melhor de todas.


Se um dia eu pegar uma gigante na Boca do Chimehuin ou uma stellhead cuiúda ou salmão gigante.


Não vai ser tão bom.


E de todas as coisas que são boas na pesca, o jogo, a camaradgem e o vazio que preenche a minha mente e limpa a minha alma com tranquilidade não podem ser representadas com uma foto.


Palavras são quase insuficientes, como pode notar o leitor que sobreviveu até aqui.




Agora lembrando essas coisas e pensando sobre aquele momento Marco Arriba e como eu me senti realizado e exultante.


Me dou conta que aquela foto borrada é que era realmente era perfeita.


Talvez eu pindure ela na parede para lembrar mais seguido daquele momento.


Ou talvez, simplesmente tire de lá as outras.

Um comentário:

Anônimo disse...

tinho é show de qualquer jeito baita pescaria, mas da proxima leva o bico pras fotos .