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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Varas de Bambu (parte1) ou quase isto...

Quando alguém começa a pescar com mosca e começa a se aprofundar no assunto acaba esbarrando neste mundo meio mágico das varas de bambu.

Antes de inventarem varas de fibra de vidro e depois as de grafite, as varas de pesca eram feitas de madeira e depois se descobriu que bambu era perfeito para a função.

E na pesca com mosca e em especial, na pesca de trutas, as varas de bambu se mantém uma ferramenta excelente. As razões vão do puro encantamento de se usar uma uma peça feita a mão com detalhismo que se compara a de uma obra de arte até motivos mais práticos. Na pesca da truta ainda é possível se beneficiar das maiores possibilidades de design, que ainda são maiores que as varas de carbono. E as varas de bambu acabam sendo melhores de pescar, apresentar a mosca e até brigar com o peixe (protege melhor o tippet).

Sem falar que varas de grafite são para-raios muito eficientes. O pescador paranóico que acha que o primeiro raio da tempestade vai lhe torrar e o pescador radical que acha que o rio fica mais piscoso em meio a uma tempestade elétrica podem se beneficiar do fato que bambu é isolante apesar dos passadores de metal.

Mas afirmar que é melhor ou pior que varas de carbono ou até mesmo fibra de vidro (alias também isolante) a qualquer outro material é perda de tempo. Porque tem tem gente que acha o gosto de chá de boldo bom. Existem varas de bambu que são ruins e varas de carbono que são ótimas. E vice-versa. E o que é bom para um pessoa acaba não sendo para outra, talvez não-pescadores não compreendam o conceito, porque varas de pesca possuem personalidade e elas vão combinar melhor ou pior com o temperamento de cada pescador. Amigos meus odiaram pescar com caniços que eu gosto e por aí vaí ( para não dizer vice-versa de novo). Esta personalidade existe fisicamente no modo como a vara é feita, sua ação,a flexibilidade do material e seu acabamento. E das experiências que temos com ela. Eu tenho uma vara de grafite que eu tinha particular dificuldade de lidar pois considerava ela "azarada". Já quebrou três vezes. Mas a maior truta que eu havia pego até então era com ela. Então eu me apegava a ela com certa relutância. Ela me saiu caro e ela sempre me pareceu muito boa mas fiquei sete anos sem pescar com ela porque as circunstâncias de seu último acidente me eram particularmente dolorosos.

Sim. Pescadores possuem relações emocionais com o seu material de pesca. Talvez se encaixe como fetichismo, mas só alguém que nunca pescou regularmente na vida não entende isto.

Doze ou treze anos atrás quando eu comprei o meu primeiro material de fly, um "combo" Cortland que custou menos de 80 dólares porque achava um absurdo pagar 120 ou 130 por uma bem melhor da Scientific Anglers. A esta altura eu já tinha pesquisado uns catálogos. Eu visitei a Kaufmann Streamborn em Seattle e 120 ou 130 dólares era o preço de uma vara de grafite das mais baratas. E o preço das varas de bambu. Uau ! Mais de mil dólares.

A razão devia ser porque o bambu vinha da china e era de um tipo especial, Tonkin (arundinaria amabilis), não a taquara do banhado. E era cortado em tiras e aplainado a mão em partes cônicas e colado pelas mãos de uma espécie monge maluco de uma religião secreta que aprendeu de seu mestre a fina arte de fazer varas de fly em bambu e por isso a coisa era tão cara.

Bom, no fim das contas vim a descobrir que dá para aprender a fazer esta coisa em livros e vídeos. E que talvez o único pré-requisito era ser maluco. Tempo e dinheiro estão envolvidos na empreitada, mas pessoas malucas o suficiente superam todos os obstáculos e vão fazem varas de bambu.

A razão do alto preço então deveria ser que monta uma única destas varas demanda um grande número de horas de mão de obra especializada e além disso, conta no preço a raridade, a apreciação da habilidade de quem a faz, as vezes da marca (grife). Quando descobri que as varas feitas por um tal Garrison valiam mais de oito mil dólares achei que o mundo ia acabar. Nunca eu iria pescar com um treco daqueles .

Um dia, muitos anos atrás, eu tava com o Caco, o Tita e o Varella. Talvez o Jairo. Parte da antiga "canalha" como diz o Bico. Um grupo que junto com o "Véio" Ademir Gunz, o Daniel Varela e o Benjamin eram carinhosamente chamado de Câncer. Os da pesada, para fazer uso das palavras do Chico Buarque.

( O Caco quase não pesca mais de fly. Hoje, junto com o Cao ele pode ser visto na ponta do Campeonato Brasileiro de Pesca com Isca Artificiais. Culpa minha e dos anzóis da Mustad e uma boqueira que o Cao levou em Esquina porque os anzóis Hayabusa do Caco ferravam os dourados e os mustad do Cao não. E a culpa é minha, que fiz as moscas. Não do Cao, que não sabe ferrar dourado com moscas.

O Cao nunca mais pegou uma vara de fly. Magoou. E o Caco, talvez por remorso de ter judiado tanto do amigo. Começou a cada vez mais pescar com ele e cada vez menos pescar de fly. )

Buenas, a gente tinha pescado as carpas do Caco e estávamos talvez comendo um churrasquinho e certamente bebendo umas que outras e o assunto varas de bambu veio a tona.

E eu falei : " Sabe... Eu vi num livro do Tita como se fazem as varas de bambu e não é difícil. É complicado: tem fazer isto, depois isto e depois isto. Mas não é a mesma coisa que fazer foguete para ir a lua. Só tem que ser maluco !"

E o Caco que ainda não tinha sido levado para o lado escuro da força decidiu que era maluco o bastante disse : "-Vou fazer varas de bambu !"

Continua...

P.S: Hmmm. Comecei escrever querendo ir para um lado e o texto me levou para o outro. Então até eu chegar na trutas que pesquei este ano com varas de bambu, vai ser outra odisséia. Uma odisséia que envolve John Gierach, as varas do Caco. E mais Beto Saldanha e o Gregório...

Aproveito o espaço que o TTKOS me concede para lembrar o habilidoso Beto Saldanha que se ele ainda tem a seda da minha varinha de bambu que ele me mande um pedaço para mim aproveitar o inverno nebuloso para reacabar. Também uso esse espaço para encabular o Caco e pedir para ele envernizar ou pelo menos devolver a minha vara (que ele fez de presente, por certo, mas poxa) que eu tento envernizar. As rarissímas K&K, de fama mundial, feitas por ele estão por muitos anos dentro armário esperando que seus luxuosos silk wrapping feitos por mim seja envernizados para atingir sua plenitude..

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Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom Tinho, espero que vc consiga terminar o quanto antes possivel, e realmente um prazer pescar com bambu, e se nessecitar alguma ajuda, nao sou o melhor pra faze-lo mas estou a disposicao.
abraco
Lauro Rosset