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sábado, 18 de julho de 2009

Fernando Westphalen

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Da esquerda para direita: C. Xavier, Genau, Judeu, Celo e Tinho.


No dia 15 de julho passado. Neste ano de 2009. Recebi a triste noticia do falecimento de Fernando Westphalen.


Passado alguns dias para eu me recompor um pouco da imensa tristeza pelo qual eu e meus familiares fomos cometidos, é chegada a hora de eu tomar coragem e fazer este registro aqui no blog.


Além de colaborador do TTKOS, o Judeu era parcela considerável da minha massa de leitores.


A tarefa de fazer um óbituário, já comentei aqui, é das mais difíceis de um jornalista.


Fazer justiça a vida de uma pessoa.


Ás vezes medindo os altos e baixos de um a vida, mantendo objetividade e com elegância e estilo é uma tarefa para poucos.


Com certeza não é o objetivo deste post pela total impossibilidade de eu manter objetividade e distânciamento em relação ao assunto e obviamente, por eu não ser jornalista.


Mas todos nós ficamos bastante satisfeitos com o obituário que saiu na Zero Hora que pode ser lido aqui, e me falta o nome do jornalista que o fez para dar justo crédito.


Certamente a razão desta riqueza vem da colaboração do jornalista Lúcio Haeser. Que escreveu um livro sobre a história da rádio Continental 1120 e nos privilegiou com este resgate da história pessoal do Tio Nando.


No entanto, preciso escrever algumas coisas sobre ele. E neste ponto, não sei que bicho que vai dar.


Eu escrevo estas linhas para lidar com a perda.


E as torno públicas para compartilhar com as pessoas com quem posso ter este sentimento em comum.


Do privilégio da minha relação com ele, este relato foge um pouco do contéudo do obituário.


E talvez, este texto possa colaborar no enriquecimento da memória de nossa familia.


A precisão das minhas lembranças são discutíveis. Mas não sou jornalista, então não reclamem, contribuam.


Fernando Westphalen tinha muitas histórias que podem até consideradas pitorescas. Algo derivado de sua personalidade e inteligência incomuns.


Quando criança, insatisfeito com as relações familiares, se rebelou contra a hierarquia e atravessou Castro Alves para buscar indepêndência com aprendiz na sapataria do Seu Oscar.


O vô Moysés, que de bobo não tinha nada, foi indulgente com o temperamento de seu rebento com a certeza que era passageiro. E foi.


A Dona Cleci não deixava nada faltar ao seu dileto filho.


Sempre guardou um prato de comida para o seu terceiro filho. Para que este sobrevivesse ao caos que se impunha aos seus pais que tinham alimentar onze filhos e um que outro sobrinho que viera para Porto Alegre estudar.


O pratinho do Nando tava sempre garantido, não importando o quão caótico fosse os seus horários.


Quando subia o morro milenar para ir à aula no IPA junto com o tio Sèrgio. Imagino que fashionably late.


Costumava apertar o passo para chegar adiantado em relação ao irmão e trancar a porta.


O tio Pretinho, por ser mais velho e responsável, deveria garantir que ambos comparecessem à aula. Mas a cancela trancada era um obstáculo intransponível e aos jovens só restava ir ao Hipodrómo do Moinhos de Vento acompanhar os trabalhos..


O Luis Fernando Verissimo, outro estudante nota 10 do Ipa, constumava acompanhar o Tio Nando nestas empreitadas turfísticas.


A casa da familia na esquina da Vitor Meireles com a Castro Alves, fazia do hipódromo um lugar óbvio de encontro para os filhos do Moysés Westphalen e para o amigos deles, Geraldo Kessler que morava na Goethe e o Armando Hofmeister que morava na esquina da Castro Alves com a Schiller. E os leitores deste blog podem então entender de onde vem a minha paixão pelos cavalos.


Mesmo com a gloriosa Baixada Tricolor estando ali ao lado. O Judeu saiu um colorado dos mais cri-cris. Desconfio que por influência do Vô Moysés que afirmava diplomaticamente que era torcedor do Cruzeirinho mas que a mim nunca enganou. O secadorzinho!


Mas não devemos nos ater aos defeitos de nossos entes queridos.


Nem deveria tocar muito no assunto da acampamento cigano que se formou na aréa do hipódromo, que já havia se mudado pro Cristal.


As informações que tenho são limitadas, mas tem algo a ver com festas longas, mulheres bonitas.


Em uma familia em que o pai era positivista e a mãe católica fervorosa, o apelido Judeu é pelo menos curioso.


A versão que me foi dada e´que vem dos tempos do Julinho. Reza a lenda que uma época menos politicamente correta, a sua avareza com o dinheiro lhe era dado para o lanche lhe conferiu a alcunha.


O objetivo, obviamente, era investir nos cavalos.


Não posso confirmar a veracidade, uma vez que existem versões diferentes até para o meu apelido.


Seja como for, o apelido ficou para sempre e ele ficou conhecido publicamente pela alcunha.


Após um longo noivado chegou a hora que a Tia Judite, fez valer sua forte personalidade e disse era chegada a hora deles constituirem familia. Mais ou menos assim.


Casaram e tiveram dois filhos.


Como o Celo tem a minha idade, apesar de ser mais velho, sempre fui acolhido na casa deles. Desde os tempos que brincavámos de Rin Tin Tin. Eu por ser loiro era o cabo Rusty e o Celo, sei lá porque sempre, queira ser o cachorro.


Nos fins de semana, que eu ia sábado ao prado e dormia na casa deles e voltava para casa com o pai quando me juntava a ele novamente no Cristal.


A Marcia era mais novinha. Não muito, devo dizer antes que ela se empolgue.


Chegada aquela idade em as diferenças de idade não são mais relevantes nos tornamos parte de uma geração, nos tornamos grandes amigos.


A paixão pelo turfe foi marcante na vida do Tio Nando.


Me lembro ter ido, guri, jantar na casa do Renê Berutti. E ele tinha encardenados as primeiras edições do Turfe de Bolso. O GK, pegou uns para me mostrar, na certeza que eles entreteriam um jovem meio deslocado no jantar de adultos e me mostrou a coluna do "Crônometro do West", com uma caricatura que mostrava um garoto magro e de cabelos escuros que perái.... Era o Tio Nando.


Ele também narrou turfe. E acabou trabalhando mais em rádio como locutor. Até que migrou apra publicidade para trabalhar com o Mafuz na MPM.


Em alguns anos ele entrou na aventura da Rádio Continental, e recomendo o livro do Haeser ou pelo menos uma visita ao site.


Nesta época, com recursos para se permitir bons vinhos, e esta é uma versão do Tio Biduio, ele iniciou a sua paixão por vinhos.


É fácil gostar de bons vinhos o dificil é ter dinheiro para ser indulgente com a paixão.


O engraçado era ouvir ele chamar cerveja de lasix e bebida de caminhoneiro naqueles churrascos em que a temperatura beira os quarenta graus, como se ele nunca tivesse bebido uma cerveja na vida.


Os churrascos assados pelo Judeu eram um espetáculo em si.


Pessoas mais anais costumavam sofrer observando o processo.


Era invariavelmente sem sal, pois é assim que se assa em uma parilla. O sal priva a carne de seus sucos mais saborosos e só devia ser posto na hora de servir.


E caso tu não soubesse do fato, não tinha problema.


Ele atirava a carne no teu prato.


Gritava: "-Não tem sal !"


E por medida de garantia. Botava sal na carne em seu prato caso o comensal não fosse pró-ativo o suficiente e salgasse a carne à gosto em menos de dois segundos. .


A manipulação da carne era preferencialmente com a mais evoluída ferramenta da humanidade. Suas mãos encardiam o avental de um forma que eu não posso descrever com precisão. Pelo menos sempre sabíamos qual era o cálice de vinho dele. Era o mais engordurado.


Não menos sujo ficava ele quando a tia Jú abria uma mesa de massa caseira, cortada a faca. E ele se encarregava de fazer rabada.


Sempre insistia que as pessoas comessem lautamente em sua mesa.


E como eu não me fazia de rogado eu colaborava para que a superabundante refeição não se transformasse em sobras.


Em dias em que eu tinha grande atuação ele me brindava com um dúbio elogio. "-Este é cavalinho de corrida !"


Em dias de choppadas, algo que lhe revoltava, eu era reduzido a ralé conhecida com "petroleiros".


Mas se eu por um motivo ou outro não me saciasse com um frade, ele logo demostrava irônica preocupação com a minha saúde.


Afinal só doença explicaria tamanha anorexia, dois ou três pratos. " O quê...Nunca vi o oceano recusar água !"


Curiosamente, ele própio não comia muito. Ficava a espera da sobremesa. Era na mesa de doces que demonstrava espetacular desenvoltura.


Em 1977 , o as coisas com o governo militar não estavam muito satisfatórias. Ele deixou a rádio e pode voltar para MPM.


Mas a rádio mudou esta cidade. O Judeu com sua coragem e atuação politica naqueles anos deixou um legado mais profundo que o fenômeno cultural e o sucesso financeiro da Continetal 1120. Que não foi pouca coisa.


Nos anos 70 e 80, ele se permitiu ser indulgente com os cavalos de corrida e se associou ao Haras Itapuí para criar cavalos de corrida. Tinham um plantel bom e me lembro de pelo um menos um ano que liderou as estatísticas de criadores no Cristal.


Muitos destes bichos se não foram craques eram muito bons. e habitaram a minha imaginação de guri e a esperança de ir para a foto da vitória. Devilom, Chisum, Etíope, Last Time, Hey Up, Habanita em especial a Isla Real. Que corria qualquer quantidade. Levou o Diana e G.P. Luiz Fernando Cirne Lima e fez campanha na Gávea e Cidade Jardim.


Quando a MPM foi vendida para a Lintas, saiu e na negociação ficou com a Visor Propaganda. E com a Visor ele atendeu durante anos a conta da Copesul.


E faz alguns anos, ele se aposentou.


Ele ajudou muita gente. Financeira e profissionalmente.


E tenho firme crença que viveu a vida do modo que ele acreditava que deveria ser vivida.


E entre idas e voltas, isto significava: vinho, boa comida e ouvir um tango.




Nem tudo aconteceu do jeito mais justo, pelo ponto de vista de Karma. Mas a vida é assim mesmo,tem um tanto de Cambalache.


Os problemas de saúde nos últimos meses, em especial, foram pertubadores.


Porque como disse o Tio Plínio Dutra, se ele estava no hospital era porque ele não estava bem e angustiantemente como à Flores da Cunha, lhe sobrava coragem mas lhe faltava o ar.


O livro sobre a Continental foi good Karma e a manifestação de amigos e parentes em resposta ao seu falecimento mostra a justa medida do tamanho da vida que ele viveu.


Uma vida intensa em toda a sua extensão.


Desde o partidor até o espelho.


Como Secretariat no Belmont Stakes.


Ou como Estensoro. O bicho que me ele disse ter sido o maior craque saído aqui do Sul.


Não sei se faço a coisa certa em postar este texto no blog. Mas me sinto curiosamente bem após ter escrito esta confusa elegia.


E me lembro ter extraído conforto ao ler as coisas boas que foram ditas sobre o meu pai durante a desolação que seguiu o seu falecimento.


Talvez sirva também de conforto para outros.


Peço perdão se não fui preciso ou totalmente justo.


Com o falecimento do Tio Nando e a impossibilidade de continuar a compartilhar tantas coisas que tinhamos em comum, perdi um amigo, um conselheiro e um pai.


Por esta razão eu precisava botar para fora.


O tio Nando é sobrevivido por esposa Judith, seus filhos Marcelo e Màrcia, sua nora Karine e o seu neto Pedro.


Ele viverá para sempre na memória das pessoas com que conviveu e no seu legado profissional.


Fernando Westphalen (16/10/1937 - 15/07/2009).

6 comentários:

Anônimo disse...

E cantando na igreja, caprichando nos agudos para fazer todos à sua volta morrerem de rir, e criticando todas as manchetes dos jornais, todas as manhãs.. Lindas palavras Tinho!

Anônimo disse...

Tinho, linda homenagem àquele que sempre esteve ao nosso lado.
Da infancia à idade adulta ele esteve muito presente apos o falecimento do GK. Tive oportunidade a alguns anos de lhe abraçar e agradecer tudo que fazia pela Dona Rosa e por voce (eu ja morava longe).

A distancia o sorcier ainda esta se refazendo. Ensaiei algumas palavras mas estou ainda sem condiçoes de conter as lagrimas...

Tinha nele um amigo, um guru , uma referência...
tenho lembranças das boas conversas que gostaria de partilhar.. (vou postar uma homenagem em breve)

uma perda irreparavel por tudo que fez pelo Brasil, pelo turfe e pela familia.
estou longe e triste...
IPE - Le sorcier cardinet

ANDRÉ WESTPHALEN disse...

A parte do churrasco, dos petroleiros, dos cavalinhos-de-corrida nos levam a sensacionais lembranças... de grandes disputas gastrônomicas estimuladas pelos pais... é como fosse ontem...
Um grande abraço
Parabéns Tinho, pela iniciativa
Abraço

André

Andy Santos disse...

Tinho,

E' com muita tristeza que temei conhecimento da passagem do Judeu. Tambem encontro conforto nas tuas palavras. Fernando era um homen bom e justo e vou carregar para sempre na lembranca as horas passadas ao redor da churrasqueira, copo de vinho na mao e sempre uma historia pra contar...
abraco,
anderson

Rodrigo Westphalen Leusin disse...

...agora não dá. Preciso esperar mais um pouco. Abração. Bonito e justo demais. Rodrigo

Anônimo disse...

tio nando um amigo, um exemplo,um orgulho para todos ,sua brilhante personalidade deixou marcas em cada um de nós ...sua inteligencia , coragem , desprendimento e sua simplicidade foram marcantes na nossa formação.tio nando obrigado por tudo.... pelo exemplo de vida... pelo apoio no momento mais dificil quando da morte do "professor" assim que vc chamava meu pai