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quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Primeiro Dia

John D. Voelker,  aliás Robert Traver, era  advogado, juiz de direito e escritor. Seu livro "Anatomia de um Crime" baseado em uma experiência dele como advogado de defesa em um caso de homicídio se tornou um sucesso e virou um filme de mesmo nome que virou um clássico do cinema.
O sucesso de Anatomy of a Murder fez Voelker encostar o burro na sombra. E quando cansau dos tribunais resolveu fazer o que mais gostava: pescar  e escrever sobre pesca (de algum modo me lembra o Irineu). Seu texto é divertido e com luxo dos recursos de alguém que chegou a Juiz do Supremo Tribunal do Estado de Michigan. 
Em  uma crônica clássica, ele fala sobre o primeiro dia  de pesca da temporada. O dia da abertura. Comparando este dia com o Natal,  a abertura da temporada seria  para o pescador o que o Natal é para as crianças. A expectativa e os preparativos...
Por ter vivido numa zona de clima menos amistoso no estado Michigan, a. U.P. (upper penisula). A abertura da temporda nem sempre foram dias mais adequados para pescar mas  sempre era especial. Pois depois de um longo e frio inverno era hora de pegar a tralha e ir encontrar os amigos e ir pegar trutas. Se não desse para pescar, bom, sempre tem o baralho e um trago.
Traver teve vários dias de abertura com  pouca pesca e recheados de chuva, frio, carros atolados e ressacas no dia seguinte...





Junin em 'una tarde gris" . Lugarzinho bom esse para se botar um rio !




Depois de dois anos sem empunhar uma vara de fly eu voltaria a pescar.   Eu teria uma oportunidade única de voltar a pescar simplesmente no Rio Chimehuin, a catedral da pesca com mosca da Patagônia Argentina.
Gracias Doc




Melhor que isso, só o Renato Cassol que iria  aprender a pescar no Chimehuin. Luxo reservado a pouquíssimas pessoas, talvez só "El Bebe" e  os nativos da região. É como ser batizado no Rio Jordão.




Mas eu não tinha a tal expectativa da vespéra do Natal. Porque nós estávamos indo de carro. De Porto Alegre até Junin de Los Andes. Já é uma pernada...
Pernoites em Montevideu e Trenque Lauquen.  A  estrada em si tem boas passagens que ficam para outra hora. O defeito é que  a expectativa de pescar é superada pela expectativa de chegar. Os dias extras  de viagem não aumentam a ansiedade de pescar.
Três dias  de olho na estrada, é claro que parar em uma parrillada  no meio do caminho sempre alivia o estresse da jornada.




Então uma hora  tu chega...




 Ah as luzes da cidade.... E pelo tamanho da fogueira que se  você percebe o quão portentosa é uma aldeia.




Digamos que Junin de Los Andes está mais portentosa que da última vez que lá estive. E como diz o pessoal do Blog Bolas Nas Costas :. terra de gente hospitaleira.




(Aliás o podcast BNC voltou, "eiscelente"  noticia da volta a Argentina, confira no globoesporte.com.).




Chegamos  a noite em Junin, muito vento, estava entrando uma frente fria.




Na porta da hosteria estavam um par de  botas secando. Tinha gente pescando. Bom sinal.




Os amigos já estavam lá.
Mesmo chegando a um lugar que nunca se esteve antes se têm um conhecido te esperando... É como  encontrar uma bússola no meio da jornada.
Em especial, em eventos sociais em que não conhecemos ninguém ou pior ainda  em um  funeral.
Então quando o Beto saiu porta afora foi com se eu já tivesse ficado várias vezes em Milla Piuke. Chegou com ele o  Gregório, o dono das botas, que eu conhecia de sua fama entre os pescadores e das histórias que o Tita me contava.




O Gregório tinha ido pescar, saiu do avião, pegou o equipamento e foi ao Chimehuin "de a pé". Pescou bem. Quantas cidades no mundo possuem um rio truteiro no quintal. Talvez um bom número. Quantas tão bons quanto o Chimehuin. Não sei se existe outra.




O Beto achou que o tempo tava enfeiando ou tava estafado com a viagem, pegou o cachimbo e uma dúzia varas de bambu novas e foi pro jardim testar suas novas criações ou talvez tenha ido visitar o efervescente comércio da capital argentina da truta. Eu não estava lá para saber oa certo. Em resumo : O Beto não havia ido pescar.




Ficamos felizes em chegar....
Fomos dormir para acordar bem cedo e ir pescar no outro dia de manhã....




Que nada.




Isto é para quem tem pressa. Para quem tem que ficar quatro dias e ir embora e precisa espremer cada minuto. Nada  contra .O homem tem que fazer o que ele tem que fazer...




Mas nós tinhamos um luxo de ficar o tempo o suficiente para ter uma atitude quase de quem mora por lá.  Psicologicamente, isto me deu uma liberdade para aproveitar o tempo de modo que faziam muitos anos que eu não conseguia. Se vacaccion tem de algum modo sua raiz etimologica em estar vago,  eu tive as vacaciones perfeitas.
Em um dado dia da viagem, que eu não sei qual foi, me perguntouo Beto, que também não sabia,  que dia era aquele. E eu não sabia se quer qual era o dia da semana tampouco do mês. E não usei relógio durante todo este tempo.
Não fez falta.
Acordava de manhã ligava a t.v. para ver que horas eram nos noticiários da capital argentina, paar ver se era razoável e ir tomar café da manhã. Via como estava El Humo e ia ao desayuno.  Media luna e dulce de leche, posso ficar mais uns meses sem ver....
Depois disso, era pegar a tralha e Carpe Diem !




A estrada tinha nos dado uma fome patagônica e fomos ao Ruca Hueney, aliás, El Nuevo Ruca Hueney. Provavelmente foi por muito tempo o único restaurate da portentosa Junin e é um dos marcos da cultura local. Os pescadores se hospedavam na Hosteria Chimehuin e  quando não comiam por lá iam ao Ruca.  
Junin, com eu disse, está mais portentosa, e agora há  mais opções gastronomicas. Nada que se compare com San Martin, mas divirjo...



Por pura "ortodoxia", pedi uma milanesa de terneira. Sempre é bom e e´o prato mais "em conta". Não que preço fosse o problema. Mas é o preço faz da milanesa do Ruca um clássico para o pescador.
A grande surpresa da noite e a razão deste desvio narrativo foi o vinho. Um malbec da Humberto Canale, 2002, a super safra nos disse o Tita. Perdido na adega do restaurante e estava absurdamente bom. Malbecs da safra 2002 são raros de encontar a testa altura do campeonato.
Os vinhos argentinos, especialmente malbec são muito bons e tem este potencial para  a grandeza. A carta do restaurate é razoável, nada de excepcional.  Então não é absurdo que lá tenha  bons vinhos. Mas no entanto este vinho lá da patagônia me surpreendeu.. Aonde menos esperava foi  encontrado um troféu..

Agora sim eu estáva pronto para ir dormir. Mas não foi uma noite de sono totalmente tranquilo.Choveu a noite inteira, chuva forte em alugns momentos. Isso ativou uns flashbacks Ausentinos aonde noites de chuva represnat  o risco  de um "rain off", rio fora da caixa e agua suja e a doce resignação de ficar comendo os acepipes da Nilda em frente da lareira. Mas como não chovia a três meses e segundo o Irineu, que tinha voltado na semana anterior,  além de baixo os rios estavam com água quente. A chuva era benvinda.
Acordei no meio da noite com uma angustia ausentina que foi acalentada por uma tranquilidade patagônica, a chuva deveria ser vista como uma ajuda,o frio também e afinal  eu teria tempo para esperar o rio ficar mais generoso caso a chuva lhe alterrasse o humor.




De manhã, medias lunas e dulce de leche, sempre muito bom por lá  e o  café sempre abaixo do par. Em qualquer lugar por aquelas bandas a exceção dos cafés expressos.




Fomos a San Martin, o Renato tinha que deixar as coisas para volta dele acertadas na, como diz o Lê , "Arrolinhas Argentinas". Passamos na Pireco para marcar as flotadas e  além da Mercedes, encontramos  o Alejandro em um dos poucos dias da temporada em que não estva remando. Foi  muito  bom rever os amigos.
Câmbio era necessário e aí ja era hora de almoçar. E com o almoço mais vinho.




Quando chegamos na hosteria eu já era a favor da siesta, já estava bem satisfeito com a visão do cume do Lanin nevado. Promessa de melhora da água dos rios nos dias que segueriam.




Mas seria demais. Vinte e quatro horas em Junin de Los Andes e não ir pescar, seria impossível. Devido ao adiantado da hora  a decisão foi fácil. Pegar o equipamento, vestir os waders e as botas e ir de a pé até o Chimehuin a poucos metros do rio.
Cinco "atletas" paramentados da cabeça até a ponta dos pés cruzando a Ruta 234. "A sight to see" diriam os anglófonos. Felizmente Junin é uma cidade  "cosmopolita" no sentido "angler" da palavra, uma das únicas do mundo que pode- se dizer que é razoavelmnete normal  um coisa desta acontecer.





Quando um pescador diz que um peixe era pequeno, em geral, ele está dizendo a verdade.
No entanto, quando diz que o peixe era enorme....




O pessoal saiu logo entrando no rio e pegando peixes.
Eu estava ali  me sentindo enferrujado. Demorou um pouco para entrar  o peixe. Até que encontrei os pequeninhos. E haviam muitos.




Inclusive o Renato que foi apresentado  ao fly casting momentos antes. Eu tinha uma certa preocupação que ele tivesse alguma dificuldade e  ficasse com uma má impressão do "quiet sport".




Tenho certo apreço pelas trutinhas, o consolo de saber que o rio está bem e se renovando. Que vem mais uma geração de trutas selvagens. Toda vez que sai uma truta destas em Ausentes era uma festa. Mas não era para isso que estava lá.




Logo vinha caindo a noite e peguei algumas trutas melhores. Quase todas marrons (salmo trutta). Estava frio, me conformei em voltar para pousada  e esperar por melhor pesca para os  dias que ainda viriam. E tomar esta decisão foi importante. Eu estava saindo do Chimehuin, que sinceramente achei que nunca mais voltaria a pescar.  E mesmo tendo algumas casas não lá muito bonitas compondo o cenário, eu podia enchergar o cume nevado. Estavamos ali nos fundos da cidade. Perto de uns terrenos baldios que o Beto carinhosamente chamava de El Basural. Era o tal anoitecer de uma tarde gris. E mesmo assim era lindo de se ver pois  estávamos pescando trutas.




Não foi "aquele" dia de pesca fabulosa mas francamente, eu não tinha o que reclamar  As trutas eram pequenas,  eu não estava pescando "bem", mas eu estava pescando no Chimehuin. Era quase impossível conter  o sorriso bobo.






Dr. Kroef em visual "dunga high tech" e a truta surpresa do primeiro dia.




Na pousada, já noite enquanto me arrumava chegaram o Renato e o Tita com um largo sorriso nos lábios. Poucos momentos antes , o Titão  olhou para um poço e pensou que ali deveria ter um boa  truta.
Arremessou lá e pegou um trutão.  Para bem  mais de dois kilo, mas do  kilo forte do Paulinho Guedes. O que equivaleria em robalês a  quase três kilos no rio Mampituba, dependendo de que está pescando.




Até o último dia de pesca o nobre doutor falou impressinoado daquela truta, pega ali no Basural, em um pocket. Testemunho das surpresas que se pode ter na beira do Chimehuin.
Aonde  menos se espera pode se encontar um troféu.
Robert Traver iria adorar.



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