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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Ainda sobre varas de bambu.

Fiquei muito impressionado durante a GPP com os caniços de bambu do habilidoso Beto Saldanha e os do filosófico Grégório.
Além da qualidade como ferramenta de pesca são muito bem acabadas.
O Beto me disse que está vendendo muito bem. Que é de algum modo surpreendente devido a natureza heterodoxa do produto.



Mr Saldanha. Pegou uma "marrão" com esta delicada ferramenta feita por ele em bambu.
Não exatamente usando moscas que imitavam "midges"


Mas fazendo um raciocíno econômico rápido :
Atualmente pode-se adquirir nos Estados Unidos por menos de 150 dólares uma vara mais ou menos  muito boa e o dolar está amigavel.
A palavras chave, no entanto, sabem os meus amigos pescadores é Estados Unidos. Como dizia o Cholota Guaspari : "A camisa é barata, cara é a passagem !"
Com impostos, atravessadores e tudo mais fazem que os  tais $150 mais do que dobram de preço.


Agregado a qualidade das varas de Bambu produzidas por qualquer um dos "velhos rabujentos" está o preço em reais. Se comparado com qualquer vara artesanal equivalente produzida em dólar são relativamente baratas.
De modo que dar até para entender porque vendem bem as varas do Beto, são bom negócio.


Em especial no Rio de Janeiro, lar do Beto, está surgindo uma turma que só pesca de bambu. O que a quando eu comecei  a pescar com mosca era impensável.


Se o Beto, testando sua grande variedade de modelos e o Lê, pescando basicamente só com um  modelo ou outro que ele desenvolveu para as suas preferências só pescam com varas de bambu é perfeitamente lógico.
O Caco quando está fazendo as varinhas dele também era assim.
Experiementar o fruto de seu trabalho, perfeitamente  normal..


Mas nos dias de hoje, gente que só pesca com várias de bambú. Esquisito,  mas em catelhano "exquisito" é uma boa coisa.


Não é nem   questão de comparar  grafite, fibra de vidro e bambu. Para cada situação é possivel dizer que tal ferramenta é a ideal. Em geral é aquela que não temos no momento. Senão vejamos :


"-Como foi o dia ?"
(cenário 1)
"- Bom... Mas se eu tivesse com uma vara de bambu para proteger o tippet 6x porque os peixes só estão pegando em midges..."


Lógica atrás da desculpa esfarrapada :  Varas de bambu amortecem melhor a tensão aplicada pelo peixe e evita que linhas muito finas arrebentem .
A verdade : explodi a linha porque sou troglodita afobado.


Ou :
(cenário 2)
"-Bom. Mas a minha vara é muito lenta e eu perdi muitas ferradas. Pode ter sido os anzóis... Se tivesse com uma vara rápida de grafite tinha matado a pau !"


Lógica por trás da desculpa : Varas de grafite or serem mais  rápidas reagem melhor na hora de cravar os anzóis.
A verdade : sou uma besta e fico distraído durante a pescaria e deixo a linha  muita frouxa ou demorei muito para dar a ferrada.


Pode-se pescar com qualquer uma delas. O importante, sabemos, é pescar.


Mas e o bambu ? Fazendo minhas imortais palavras de Senor Abravanel.


Se era  é tão bom porque inventaram .as outras.


Mesmo considerando que existiam fábrica de varas com linha de montagem e máquinas que aceleravam o corte  do bambú e que o processo de produção de varas de fibra de vidro e depois de grafite  necessitam um toque "artezanal", nos arremates.
As última eram melhor industrializaveis, o bambu necessiat de pelo menos oitos anos pra fcair no ponto de corte e depois tem que ser secado por um longo tempo. Logo passaram a ser produzidas em maior escala e com menor preço. E arte de se fazer varas de bambú se tornou rara e dispersa e  junto com a valorização  dos "handcrafts" de alta qualidade, o preço das varas de bambu disparou.
E as raridades feitas por "builders" famosos viraram peças de coleção e até arte. Caríssimas.



O Caco e os apetrechos na época que estava fazendo varas de bambú.
Bela do foto do Ruy Varella para matéria que ele  para Troféu Pesca de  Maio de 99.
Uau, o tempo passa depressa.


Além de mais baratas  as varas de grafite eram mais leves, longas e mais rápidas. Gerando ferramentas  que parecem te fazer um melhor pescador, pois tu atira mais longe.
O que é não totalmente verdade pois o equilibrio do conjunto vara-linha e a habilidade do pescador contam  mais no resultado final. Em especial o último item.
E o arremesso é só parte do pescar.
Não é só distância mas precisa apresentar a mosca com precisão e tem que ferrar o anzol direito e jogar com peixe sem arrebentar a linha.
As arremessar longe é em geral sinal que o pescador tem pelo  menos o potencial para usar bem o caniço e pegar peixe. Mas arremessos longos  podem facilmente seduzir o pescador ao  pecado da soberba. No entanto, ás vezes o peixe está só aonde o  arremesso mais longo pode alcançar e até onde excelentes pescadores não podem pescar.
Com sorte o tal peixe será pego por alguém merecedor.
O  grafite apareceu então para dar trazer a  ilusão que poderámos ser melhores pescadores através da mágica da tecnologia  superior.


Isto me lembra uma pasagem de A River Runs Trough It, aonde o autor relata quw seu pai ensinava a pesca com mosca e se fosse por ele  "ninguém que não soubesse pescar teria  permissão de desgraçar um peixe  por pegá-lo."


Junto a isto, eu somo uma das minhas várias teorias maluca. Que a crença da cultura ocidental, depois da segunda guerra mundial e com o desenvolvimento da  tecnologia da "era espacial"  que  "enfim vai nos redemir".  Produzindo sempre soluções melhores e tornando obsoletas as anteriores.
Mas hoje percebemos  a ingenuidade e a arrogância desta visão. Arrogante por não ter levado em consideração o impacto negativo que podera ter, ficando genericamente com o exemplo da degradação ambiental e ingenua, se  não vislumbrarmos a possibilidade de que se pode usar soluções "ultrapassadas" com maior satisfação.


Mas certamente o que levou a decadência do bambu e ascensão da fibra de vidro e depois do grafite a sua atual popularidade foi o preço. No inicio as varas de grafite não eram lá muito baratas mas eram o "futuro agora". Leves e rápidas. E com o tempo até o preço ficou competitivo.


Como o vil metal é a rês de ouro da  religião que se sobressai todas as outras: O  capitalismo tecnológico.
(Adicionei o "tecnológico" devido a argumentação anterior, mas a frase em si  é uma  bobagem. Mas ficou imponente e resolvi não apagar. Devo ressaltar que estou sóbrio. Não tenho desculpas para tanta asneiras.)


Pescar com varas de bambu seria então uma heresia.


Ó-Quei.. Abandonemos o pantonoso campo das analogias religiosas e voltemos pro   realismo científico.
Fiquemos no seguro âmbito da psicologia. E evitemos a qualquer custo fróidianismos que  refiram  analogias à manipulações de varas.


O cara para gastar uma baba mais para comprar um negócio feito de um glorioso talo de capim  ao invés de equipamento.feito com o material do qual são feitos os boeings, tem que ser meio louco.


Mais louco ainda são as pessoas que se metem a fazer as varas...


Eu me lembro que quando o Caco resolveu fazer varas de bambu,  eu consegui dois  livros
Um era   técnico , The Lovely Reed de Jack Howell e outros crônicas do Gierach, Fishing Bamboo, na esperança de angariar as informações que o Caco necessitava para a empreitada.
O livro do Howell é muito bem escrito, não é completo como o livro do Garrrison-Carmichael, mas é escrito de um modo encorajador  que  faz  o processo  parecer simples. Sem reimpressões, o preço do livro disparou. Deve ser um dos três bens mais valiosos que possuo. Em mais dois anos estará valendo mais que o meu carro.
O livro do Gierach, na época que eu comprei. Foi meio decepcionante. Eram crônicas muito bem escritas e cheias das idéias deliciosas  do autor. Nenhuma tão boa como a do caniço mal assombardo de "Trout Bum". O problema era que  não continha nada que ajudasse a fazer varas de bambú. Só a constatação que as pessoas envolvidas naquele universo eram doidas.


O Caco botou o livro do Howell embaixo do braço e foi para a garagem. Conseguiu  todo o material : taquaras ( as primeiras foram de uma fábrica de movéis), plainas e principalmente o gabarito. Este consiste de duas barras de ferro presas por onde passa uma vala  regulável para se moldar as partes do bambu enquanto ele é cortado. Uma raspa milimétricamente fina atrás da outra até se conseguir seis varas de perfil decrescente. Complicado... Bom, no fim elas são coladas e formar um vara hexagonal cônica. Coisa de louco !
Estávamos numa festa de formatura quando ele puxou do bolso do paletó o primeiro pedaço de bambu hexagonal, Prova que  a tecnologia estava dominada. Tragam a champanhe !
Um brinde por conta do pai  da formanda, senhores !


O Caco pelo menos teve o mínimo de  bom senso de achar um torneiro mecânico que fizesse o gabarito.


Quando o Beto resolveu faer vars de bambu, não sei porque ela achou que o melhor caminho era o mais longo. Então ele pegou um micrômetro, uma lima e  depois de...  an educated guess  (= chute)... umas dez  latas  de Dunhill. Depois ele pegou um furadeira para poder botar os parafusos que permitem o ajuste da trapizonga. E um mês ou outro depois, voilá !


Me lembro de Mr. Saldanha  contando quando um rapas de São Paulo, Jorge Yamaguti, entra em conato com ele querendo aprender como fazer varas. Aí o Beto deu uma de sr. Miyagi  e disse :
" Arranja um perfil de aço e uma lima...."
Comentário  do mestre zen.
"-Se ele tiver paciência para fazer o plaining form (o molde) talvez tenha what it takes para fazer varas de bambú ?"


Aparentemente  o menino  fez algumas varas e não seguiu  adiante, talvez tenha recobrado a sanidade mental. Mas é duvidoso já que  no sítio dele  que estão crescendo os tonkins....


Não falei dos tonkins ?


A cana de tonkin é uma variedade de bambu (arundinaria amabilis )  que é mais indicada para se montar varas de pesca. Outras variedades são viáveis, inclusive o "madake", variedade japonesa popular entre os pescadores nipônicos. Também  plantado no sitio do Yamaguti  é usado com resultados excepcionais pelo Beto e o Gregório.
A razão que eles usam primariamente  madake é que não existe tonkin no nosso país. Este é plantado e colhido  em  escala comercial e exportado pelos chineses. Mas não para o Brasil.  E até uma alma iluminada resolva este problema teremos que ouvir histórias do Beto, que importou direto do Demarest ( importador americano), não me lembro quem foi o sócio dele nesta empreitada. O bambú chegou a um preço comparável a de uma vara pronta. Inviável.


Ou quando o Scotti trouxe umas varas de tonkin do Canadá em um porta esquis. Vieram de avião, na bagagem.


Por falar em aviões, depois de muitos anos procurando nos cantos do Brasil. Mr Saldanha  descobriu uma botanista especializada em bambus que possuia em seu herbário esta variedade. Que  não sabia bem  qual era a utilidade mas que era de valor histórico, produto muito exportado antes da segunda guerra mundial. Arundianaria amabilis. Acharam o  santo graal.
E o que que tem o avião a ver com a história.
Bom, da última vez que estive no Rio de Janeiro o Beto me deu um belo presente. Duas mudas de tonkin. ada uma de um metro de altura, enrolads em jornasi que eu trouxe alegre e discretamente  na cabine do avião, junto as minha pernas. O  Caco plantou em Gravataí e daqui uns poucos oito anos estaremos fazendo varas de pesca.


Obviamente eu não estou descrevendo o comportamento de pessoas de plena posse  de suas faculdades mentais.


E talvez a teoria do Analisa de Bagé que "locura não tem micróbio" esteja errada. Pois mais pessoas  resolveram fazer varas de bambu.  O Gilson Monroy em São Paulo. O Lauro Rosset aqui no RS, que segundo o Alejandro Klap me contou lá em San Martin, de primeira já  saiu com varas bem boas.


E como eu já disse, o Gregório. Que só pesca  de bambú. Para quem não pesca com mosca e não conhece o Chimehuin pode não parecer nada fora de bitola. Mas pescar de vara 3 e midge na Boca. Doideira.
Nos últimos dias da pescaria na Argentina, ele declarou. que quando chegasse  em São Paulo ia começar a limar um gabarito novo. Caso perdido.


Nesta loucura, se amenizarmos os  episódios mais agudos de obsessão, compulsão e psicoses genéricas que acometem os pescadores em geral, poderemos, com certa tolerância, concluir  que  esta loucura  é expressão exacerbada  da paixão pela pesca.


E analisando as varas de bambu  dependendo de seu preço (tudo tem limite) e de qualidade ( não pe porque é de bambú que o negócio é uma obra de arte, Gierach fala bem disso em Fishing Bamboo),  vimos que  o preço pode ser razoável. Então não é um absurdo injustificável. Trata-se de uma psicose light. ( Talves tratar seja o verbo certo, mas mais a cerca da idéia de tratamento).


O Beto me mandou um video sobre a historia da Hardy, famosa marca inglesa  de material de  pesca. Tem no final cenas de um rodbuilder montado uma vara de bambu. O depoimento dele e as cenas deixam claro algo. Existe   esta paixão. O sentimento tranparesse nas imagens daquele sujeito fazendo  as varas. E os pescadores entendem esta paixão e a adotam ao pescar com varas de bambu.



Esta arco irís foi uma experiência muito maior que o seu tamanho pode indicar graças em parte a varinha de bambu que o Beto me emprestou.


Uma história final. Fomos ao Malleo e o Beto me ofereceu uma de suas criações para pescar. Vara excelente. Pegue de cara uma truta boa. E que briga. A tal história de proteger a linha é verdade. E a sensibilidade que o caniço dá. Só aquela truta vale um post. Em breve. O jeito que se sente a pegada do peixe com uma boa vara de bambu..
Incrivel. Apaixonante. Talvez uma loucura.


É otimo pescar com bambu.  e ainda por cima é  um recurso renovável !


E agora tem este bando de malucos que ou  fazem e/ou pescam com varas de bambu que são magnificas e compartilham esta paixão.
Somos privilegiados.


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